Pesquisar este blog

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Divã

Ela me pediu para sentar naquela cadeira a sua frente e eu hesitei:

- Pode sentar, é confortável - disse sorrindo e tentando passar segurança para mim.

Não gosto da palavra confortável, talvez porque no decorrer de minha vida eu aprendi a me acostumar com o oposto disso, assim como aprendi a desconfiar de sorrisos que ironicamente tentavam demonstrar segurança.

Me sentei, meio de lado, e suspirei. 'Por favor conserta meu coração' pensei e não falei, mas ela pareceu entender.

- Fica tranquila, tudo tem conserto. Quer uma xícara de chá ou café?
- Um copo d'água, por favor.

Se as psicólogas realmente nos entendessem, ofereceriam de cara uma garrafa de vodka para acabar com toda essa merda de uma vez, faríamos um brinde aos babacas e nunca mais nos encontraríamos de novo. Mas a merda não acaba, ela volta.

Ficamos nos olhando por cerca de 15 minutos, nosso silêncio falando mais alto que qualquer palavra já dita antes.

- Acho que já deu tempo de você se recuperar do nervosimo, não é?
- É, acho que sim. - e como faz pra recuperar o coração perdido, doutora?
- Quais são os seus problemas?

Não é engraçado quando as psicólogas acham que podem resolver nossa vida com essa simples pergunta?  São 20 anos de problemas, doutora. Você tem certeza de que quer resolvê-los?

- Eu não consigo mais ser feliz.
- Você já tentou?
- Ele foi embora.
- A gente consegue ser feliz sozinha, menina.
- Eu não gosto da solidão.
- Só porque você está sozinha, não quer dizer que seja uma pessoa solitária.
- Não é isso que ele me diz.
- Ele quem?
- Meu coração.

Mais 15 minutos de silêncio se passaram. Descobri que o silêncio é melhor que qualquer conselho bobo de qualquer psicóloga boba. Mas ela não era uma psicóloga boba, ela também era mulher. E toda mulher já precisou de um conserto no coração.


- As pessoas machucam, menina, e você aprende a conviver com isso.
- Então toda essa merda nunca vai acabar?
- Ela não acaba, ela volta. Você só precisa aprender a lidar com isso.

Depois de mais alguns minutos em silêncio, levantei-me para ir embora mas antes ela disse:

- Abre seu coração, menina. Tem alguém por ai te esperando.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Kissing Shoulders

Ele permanecia nessa mudança constante entre a tristeza e a felicidade. 'Mas não se preocupe, eu ainda estou tentando descobrir o que isso significa' dizia a si mesmo como uma maneira de conforto. Quando não se tem alguém para te confortar, você deve se confortar sozinho.
Você deve ser feliz sozinho.

Há alguns meses ele achava que era o homem mais feliz do mundo. Ela cuidava dele, gostava dele, esperava por ele, amava ele. E todas as noites ele beijava seu ombro antes de dormir. Era sua forma de dizer que se o mundo acabasse naquele dia, eles ainda estariam juntos. O mundo não acabou e ele não beijou seus ombros.


A saudade se transformava em lágrimas sofridas, como dizia Marcelo Camelo, quando se lembrava das palavras favoritas que saíam da boca dela: 'É bom te ver sorrir'. E eles sorriam juntos e dormiam juntos. Quem vai dormir comigo essa noite? Quem vai beijar seus ombros essa noite?

Ela foi embora dizendo que não o reconhecia mais, a vida muda e você acaba mudando com ela. Ele não mudou, apenas deixou de sorrir. A tristeza e a felicidade caminham juntas por uma linha tênue e ela sabia disso.

Todas as noites antes de dormir um beijo nos ombros era dado, hoje ele dorme com Jeff Buckley cantando pra ele: and if you're so clever why are you on your own tonight?

domingo, 1 de janeiro de 2012

But all the little promises that don't mean much

Sentou na varanda de sua casa e olhou para os fogos de artifício que estavam terminando de queimar, depois olhou para o lado e lembrou-se do vazio entre seus dedos. Ano passado tudo havia sido diferente, ano passado ele estava ao seu lado de mãos dadas esperando ansiosamente por mais um ano que chegaria, diferente dela. Ela sabia que algum dia tudo ia mudar. E mudou.

Nunca fora de fazer promessas mas depois de tudo o que havia acontecido só tinha um pedido a fazer e uma promessa a cumprir. Sempre odiou clichês e todo o resto que os acompanhavam, mas infelizmente era a hora de imitar todo mundo e viver uma vida nova no ano novo....maldito clichê!

Hoje era o último dia do ano e o último dia no qual ia se permitir lembrar dele ou da primeira coisa que ele falou quando ela aceitou seu pedido de namoro: 'Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos'.

Era hora de deixar tudo (ele) para trás, reconstruir sua memória e apagar todas noites que passaram ouvindo Alex Turner dizer 'and I hope you're holding hands by new year's eve' e todas as noites que passaram seguindo os dizeres de Alex.

Era hora de cuidar dela mesma e desse coração bobo que insistia em amar errado.
Ano novo, vida nova!

Maldito clichê!