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sexta-feira, 30 de março de 2012

Assim será

Outro dia viu um menino andar do outro lado da rua e sentiu uma vontade imensa de o abraçar. Ele a fazia lembrar dos melhores anos da sua vida e, hoje, ela só queria aquele sentimento de volta. O menino apressou seus passos e ela voltou a andar em direção ao lado contrário. As coisas são assim, agora, e sinto-lhe dizer que o ditado está errado. Tudo que vai, volta? Não. Tudo que vai, vai e se você for o esperta o suficiente, você vai atrás.

Seus pés estavam cansados. Correr atrás sempre fora seu esporte preferido mas agora estava aposentada. Desistiu de tudo quando deixou uma vida inteira para trás e ele não a pediu para ficar. Nunca disse adeus pra ninguém e escreveu uma carta (nunca entregue e escondida na gaveta debaixo de suas roupas) para ele. Hoje, depois de 5 anos longe dessas memórias, aprendeu a dizer adeus para ela mesma e agora toda noite acompanha Marcelo Camelo no Bloco do Eu Sozinho e canta baixinho: Vem dizer adeus ao que restou de quem um dia foi feliz.

Outro dia o menino a viu andar do outro lado da rua e não sentiu vontade nenhuma de a abraçar. Atravessou, sem olhar para os lados, e foi em direção a ela. Oi. Tudo bem? Quanto tempo. Como você está? Sinto saudade. Por que você não pediu pra eu ficar? Tive medo....tenho medo. Te escrevi uma carta. Volta pra mim? Quero aquele sentimento de volta. Tenho que ir, a gente se vê. Tchau. Adeus. Espera. Esperei por muito tempo. Espera mais 10 minutos. Esperei 5 anos. Você não pediu pra eu ficar. Espero 5 minutos. Vamos tomar um café? Fica comigo? Sempre.


quarta-feira, 28 de março de 2012

Olhos de apetite

17 anos, prestes a completar 18. Tímida, sozinha, melancólica. Percorria o mesmo caminho todos os dias e nunca parou pra cumprimentar ninguém. "A vida não para, meu bem." disse para ele uma vez, em seu pensamento.

Sentada no fundo da sala, escrevia. Escrevia para ela, escrevia para ele, escrevia. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores, já dizia Caio Fernando de Abreu. Nunca fora romântica, mas adorava quando os olhos dele sorriam para os dela. E escrevia e contava a história de amor de duas pessoas que preferiam troca de olhares do que troca de palavras.

Não o conhecia de verdade, preferia inventar que tipo de pessoa ele era em sua mente. As vezes o amava e na maioria das vezes o odiava, porque odiar é muito mais fácil e faz a gente gostar mais. Um dia sentou na sua frente, na mesa da cafeteria, e procurou por seus olhos de apetite. Quando os achou, sorriu e os olhos sorriram de volta. E escreveu e quis voltar no dia seguinte só pra dizer: 'me salva da minha insegurança, me salva da minha realidade, me salva de mim mesma!'

Ela voltou no dia seguinte, sentou no mesmo lugar e esperou. A espera é uma merda, mas é melhor que o desespero de acordar no meio da noite e desejar a cura pra essa solidão, que nunca acaba. Ele nunca mais voltou, seus olhos foram sorrir para outra pessoa e esqueceram de dar adeus. E ela escreveu. E colocou um ponto final na história de amor. E começou outra, pra tentar ser feliz. De novo.



terça-feira, 13 de março de 2012

I think I was blind before I met you

Lembro quando você me disse que eu sempre estive cega antes de conhecer. Nunca gostei de olhar no olho de ninguém, odiava quando alguém me abraçava e sentia nojo de casais que se viam o tempo inteiro. Lembro quando te vi pela primeira vez sentado na cadeira da cozinha e não me importei com a sua presença. Meninos bonitos não chamavam minha atenção, nada chamava minha atenção.

Sempre fui a primeira a terminar todos meus relacionamentos mal sucedidos. Os bom moços sempre me perdiam quando queriam me fazer feliz e eu sempre acreditei na teoria de que eu era mais homem que todos eles. Eu não quero ouvir que você me acha linda quando eu acordo, nem quero ficar trocando carícias na frente de todo mundo pra mostrar pra eles o que eles não tem. Eu sou eles, eu não tenho e não quero ter.

E ai você, bom moço que só, tentou me encontrar de todas as maneiras e eu fugia de suas mãos quando elas tentavam me alcançar. Mas, de repente, andando por meus caminhos cegos e tortos, acabei me agarrando à elas quando vi que não tinha mais me ninguém pra me segurar. Eu abri meus olhos pra você e descobri que a vida fica muito melhor toda vez que faço isso.

Descobri que estava perdida quando você resumiu minha vida numa frase da nossa música preferida. O medo é o coração do amor, e você é o bom moço que apareceu pra consertar isso. Eu tentei escapar e você me fazia voltar toda vez que aparecia lá em casa dizendo que tava com saudade. Abri os olhos pra você e deixei você me fazer feliz.

E você sorriu porque já sabia.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Deixa eu fingir

Vem, senta aqui, vamos conversar. Me dá sua mão e deixa eu fingir que te protejo enquanto você se sente sozinho e melancólico. Deita no meu colo, deixa eu te fazer cafuné e fingir que eu não fiz merda, das grandes. Me paga um cinema e eu te pago um jantar, deixa eu fingir que eu não bati a porta na sua cara no seu aniversário.

Olha daquele jeito e canta Chico Buarque no carro comigo, deixa eu fingir que as coisas continuam as mesmas e nada mudou. Deixa eu brigar com você porque você fez a barba e te pedir desculpas com beijos, quero fingir que você ainda me chama de pequena. Deixa eu dormir na sua casa e te acordar com meu café da manhã, vamos fingir que é a nossa primeira noite juntos.

Escreve na minha mão sua música preferida, briga comigo por pegar o último pedaço do bolo da sua mãe, me acalma com seus dedos entre os meus e deixa eu fingir que te odeio, que te espero, que não te suporto, que te adoro, que não te quero mais, que te amo. Todos os dias.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Café da manhã

O mundo virou do avesso e eles trocaram telefones. Marcavam de se encontrar todo dia pra tomar café da manhã na padaria em frente à casa dela. Não conversavam e nunca gostavam de contar as histórias de suas vidas. Ela ria, ele olhava, eles davam as mãos. Fim.

Em 5 anos construíram o que muitas pessoas tem medo de construir. Em 5 anos se apaixonaram, se amaram e se perderam, e em 5 anos eles se encontraram de novo. O café da manhã passou a ser no apartamento dele, não conversavam mas começaram a contar histórias das suas infâncias. Ele cozinhava, ela esperava, eles se amavam. Fim.

O mundo virou do avesso - de novo - e ela foi embora do apartamento dele. De tanto ler Caio Fernando de Abreu, ela descobriu que o avesso era seu lado certo. Ele ligava todos os dias e a esperava no café da manhã. O avesso o levou de volta para a padaria em frente à casa dela e ela nunca apareceu. Ele olhava, ela não sorria, eles não deram mais as mãos. Fim.