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quarta-feira, 28 de março de 2012

Olhos de apetite

17 anos, prestes a completar 18. Tímida, sozinha, melancólica. Percorria o mesmo caminho todos os dias e nunca parou pra cumprimentar ninguém. "A vida não para, meu bem." disse para ele uma vez, em seu pensamento.

Sentada no fundo da sala, escrevia. Escrevia para ela, escrevia para ele, escrevia. Se a realidade te alimenta com merda, meu irmão, a mente pode te alimentar com flores, já dizia Caio Fernando de Abreu. Nunca fora romântica, mas adorava quando os olhos dele sorriam para os dela. E escrevia e contava a história de amor de duas pessoas que preferiam troca de olhares do que troca de palavras.

Não o conhecia de verdade, preferia inventar que tipo de pessoa ele era em sua mente. As vezes o amava e na maioria das vezes o odiava, porque odiar é muito mais fácil e faz a gente gostar mais. Um dia sentou na sua frente, na mesa da cafeteria, e procurou por seus olhos de apetite. Quando os achou, sorriu e os olhos sorriram de volta. E escreveu e quis voltar no dia seguinte só pra dizer: 'me salva da minha insegurança, me salva da minha realidade, me salva de mim mesma!'

Ela voltou no dia seguinte, sentou no mesmo lugar e esperou. A espera é uma merda, mas é melhor que o desespero de acordar no meio da noite e desejar a cura pra essa solidão, que nunca acaba. Ele nunca mais voltou, seus olhos foram sorrir para outra pessoa e esqueceram de dar adeus. E ela escreveu. E colocou um ponto final na história de amor. E começou outra, pra tentar ser feliz. De novo.



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